A Era do Entretenimento

A afirmativa de que uma imagem vale mais do que mil palavras, tem levado ao ringue das idéias a luta entre o que se diz e o que se vê. Se o calar é ouro e o falar é prata, então, não é o que estamos vendo na prática – nunca, em qualquer geração, se falou tanto, se escreveu tanto e se mostrou tanto sobre tudo e sobre todos que habitam este planeta. Todd Gitlin, sociólogo americano, em seu livro “Mídias Sem Limite” escreve que a linguagem americana das imagens seria ainda mais assimilável pelo mundo do que as das palavras, como no caso dos filmes de ação, ou os faroestes que os precederam, a fala é um modo secundário de expressão.
Sem dúvida a indústria cultural americana nos oferece, de uma forma estética, uma comunicação divertida, expressiva e confortavelmente animadora, mas com pouca ou nenhuma profundidade. Infelizmente, na busca de bilheteria ousam acrescentar, em filmes históricos de grandes personalidades, escândalos e desvios da sexualidade em detrimento dos seus grandes feitos em benefício ou malefício da humanidade.
O filme “Alexandre” do diretor Oliver Stone, assim como o “Código Da Vinci” de Dan Brown, mostram isso. No século 18, Alexis de Tocqueville, escritor e pensador político francês, reconhecia que os artistas americanos cultivam a popularidade, não a elevação; a diversão, não o refinamento. Execrar, ridicularizar e desacreditar a Ética, a Moral e a Fé, fundamentos da organização social em que vivemos,tem sido uma constante nos dias atuais. Ainda citando Gitlin: “Os chamados valores elevados de produção, sua preferência pelo superficial, pelo óbvio, pelo sentimental, pelo mecanicista e sem reflexão, seu desinteresse pela introversão, sua hostilidade absoluta à complicação… ameaçam reduzir o repertório cultural tanto de criadores quanto de platéias.”
Antigamente, conquistadores e seus generais, em face de tantas conquistas e cansados das guerras, se recostaram nos divãs palacianos e participaram de fartos banquetes compartilhados de intermináveis bacanais regados de vinho e dissolução – tempo do ocaso da sabedoria e da queda dos grandes impérios.
Toda nossa esplendorosa era de conhecimento pode também terminar numa negra era de entretenimento sem ética e sem moral que nos levará à desintegração da família e ao caos social. Esse fosso cultural existente entre o oriente e o ocidente tem nos protegido do nivelamento mundial do conhecimento, porém já ameaçado pelo avanço da globalização social, política e religiosa que poderá nos trazer uma aridez desértica de idéias e de criatividade, sufocadas pelas botas da tirania do poder.
A curiosidade superficial leva mais ao entretenimento que ao conhecimento; este último exige uma curiosidade que se aprofunda em esforço, tempo e dedicação. Vivemos um tempo de curiosidade preguiçosa num mundo de velocidade e superficialidade; infelizmente, muitos em vez de uma refeição rica e substancial preferem um anêmico “fast food”, também, de igual modo, em vez de um livro cheio de sabedoria e profundidade preferem um “fast book”; isto não é mais do que encher mal o estomago e a cabeça sem mastigar bem o que acabamos de comer ou ler, e podemos ter indigestão estomacal ou cultural.
Nesses livros de auto ajuda, tão na moda, finos e de letras grandes, consumidos vorazmente por tantos “carentes” de conselhos em que poucos ou nenhum destes serão colocados em prática, porque exigem dedicação e esforço, a melhor ajuda tem mesmo quem escreve o livro, a financeira. O currículo da escola da vida tem mudado muito nessas últimas décadas, antes se ensinava que o prazer era o prêmio pelo dever cumprido, mas hoje a nota mais alta se dá primeiro ao prazer, depois, se possível, se pensa em cumprir o dever. As edições de romances cor-de-rosa destinados a leitura das jovens e de donas de casa, de um passado pouco distante, divertiam, porém, mantinham o seu teor emoldurado dos bons costumes da época. O livro “O Diário de Bridget Jones” agradou tanto que virou filme de sucesso, no entanto, seu conteúdo não acrescentou muita coisa, porém serviu de entretenimento.

Edição 244

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