Em um condomínio com poucas unidades, as deliberações em assembleia poderiam ser tomadas como uma reunião de vizinhos, acompanhada por quitutes e até um bom vinho, se houver entre os condôminos um ambiente de harmonia e de respeito. Sem tanto conforto ou requinte, a regra também poderia valer para condomínios com dezenas ou centenas de unidades, embora seja difícil manter esse clima numa assembleia presencial em que faltem cadeiras para todos e até água para beber.
Já presidi assembleia com cerca de 2 mil pessoas, que transcorreu em paz, seguiu naturalmente a pauta estabelecida e teve votações tranquilas, terminando com a leitura, pelo síndico eleito, de um texto que ele sacou do bolso do paletó e que em determinado trecho dizia: “Se fizer um churrasco, meu vizinho, me convide que eu levo a cerveja!”.
O risco de descontrole numa assembleia convocada é semelhante à previsão do tempo. Você sabe até da probabilidade de chuva, mas não consegue determinar se acontecerá no lugar em que você está. No condomínio, a nuvem que pode afastar uma tempestade é influenciada por inúmeros fatores, que começam bem antes da abertura da assembleia.
Uma convocação no limite do prazo, com uma pauta extensa e que reserva para o fim o item mais polêmico tem o dom de desgastar os condôminos e o risco de ficar pela metade ou ser votada por poucos condôminos, que ficarem até o fim. Os itens escolhidos para deliberação que não tiverem justificativa plausível, orçamento compatível e apresentação objetiva tendem a gerar maior debate, repetição de argumentos – contra e a favor – e por fim, podem inviabilizar uma boa ideia, uma boa solução.
Os condomínios que represam suas pautas para uma única assembleia anual, aquela em que se aprova as contas do síndico e se valida a nova previsão orçamentária, são os mais suscetíveis a também promover o acúmulo de dúvidas e insatisfações dos condôminos, se eles não tiverem, antes de uma assembleia, outros canais à disposição para manifestar seus anseios e apreensões.
É imprevisível a reação de um condômino ao ser informado, de uma hora para outra, de um rateio extra que aumentará significativamente a despesa mensal com a sua unidade, sem que, em algum momento, o síndico tenha, ao menos, colocado o “gato no telhado”, para anunciar a necessidade de limpeza e pintura da fachada ou de bancar uma obra emergencial, por exemplo.
Se não houver argumentos para o debate sério do assunto, não faltarão discussões acaloradas por divergência ou pura antipatia, que podem se amplificar entre os presentes e chegar a acusações, ameaças e até agressões físicas, que tendem a se transformar em ocorrências policiais. Tem gente que acha que esse tipo de “barraco” só ocorre em condomínios populares. Será? Há quem já tenha assistido situações assim até em prédios de altíssimo padrão, em que a taxa de condomínio é superior a quatro salários-mínimos por mês, e que reúnem proprietários bem-sucedidos profissional e financeiramente.
Então, qual é a receita para uma assembleia com paz e harmonia? Separe 2 medidas de transparência, 1 colher de boa comunicação, coloque 1 copo de foco no que for de interesse coletivo, 1 pitada de bom senso e misture com moderação. Boa sorte!



