Tudo de mais. Tudo de menos. E quase nada no meio. Não é repetição. É urgência!

Outro dia, sentei para observar. Só isso: observar. Havia uma família em silêncio no restaurante — cada um com seus próprios fones de ouvido. Um adolescente que postava um vídeo “sobre ansiedade” enquanto ignorava a presença da avó ao lado. Um pai distraído que gritava “filho, respeita!” — sem nem olhar nos olhos da criança. Uma escola preocupada com a nota da avaliação diagnóstica, mas que não sabia o nome da nova aluna. Um grupo de colegas debatendo saúde emocional na aula, enquanto debochava do jeito de falar de outro aluno.
E, ali no canto, uma criança chorando porque sabia o que sentia – mas não fazia ideia do que fazer com aquilo.

Pensei:
– Temos emoção demais, e afeto de menos.
– Informação demais, e sabedoria de menos.
– Tecnologia demais, e presença de menos.
– Conteúdo demais, e profundidade de menos.
– Liberdade demais, e responsabilidade de menos.
– Publicidade demais, e verdade de menos.
– Palavras demais, e escuta de menos.
– Olhares demais nas telas, e quase nenhum olho no olho.

Temos nos esquecido de ensinar que:
– Nem tudo é sobre o que você sente.
– Nem tudo pode ser resolvido com uma conversa “na altura dos olhos”.
– Nem toda frustração é um trauma.
– Nem toda regra é opressão.
– Nem toda autoridade é abuso.

Nem todo desconforto é violência emocional. Crianças precisam ser educadas. E as famílias, desorientadas, não podem ser reféns do medo do trauma. (Eu repito isso com força, porque o mundo está repetindo o oposto.)

– Precisamos de pais presentes, que assumam o papel de educadores.
– Precisamos de escolas firmes, que não temam ensinar com verdade.
– Precisamos de alunos desafiados, e não mimados.
– Precisamos resgatar a ética, o cuidado, a empatia, a responsabilidade.
– Precisamos lembrar que gente se constrói no vínculo. E vínculo exige tempo, limite e profundidade. Não, não é vintage falar de valores. Não é ultrapassado exigir respeito. Não é conservador desejar que o futuro seja melhor do que esse presente tão raso. É só coragem. E talvez, seja disso que a educação mais precise hoje.

Edição 244

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