Na antiguidade, a loucura tinha como causa a possessão demoníaca, não havia outra possibilidade e eram logo notados e rejeitados. Naus dos loucos, assim chamados os navios em que eram embarcados e despejados em terras longínquas onde mal sobreviviam por si mesmos sem assistência alguma, eram meios degradantes usados até o século XVI.
O Renascimento surgiu no século XIV e se estendeu até o século XVI, período em que Nicolau Copérnico formulou a teoria Heliocêntrica, a qual fez oposição a teoria Geocêntrica, criada pelo astrônomo grego Cláudio Ptolomeu e aprovada pela Igreja. Período relativista de tantas descobertas notáveis, como a prensa de tipos móveis de Gutenberg, surge um conceito novo de loucura, então considerada o não ser da razão, ou seja, se não há razão se estabelece a loucura.
Philippe Pinel, em 1753, assumiu a função médica no Hospício de Bicêtre, em Paris, uma das suas providências foi liberar 80 alienados mentais acorrentados há muitos anos. Na época até o início do século 19 a tentativa de cura se fazia de várias maneiras, todas bizarras: choques sensoriais intensos, como estrondos e sustos, sangrias, engenhocas giratórias para provocar convulsões. Dai para frente tiveram destaque Sigmund Freud, o pai da psicanálise; Karl Jaspers, o pai da psicopatologia; Emil Kraepelin, o pai da psiquiatria moderna; e tantos outros que ocuparam a primeira metade do século vinte.
Em 1950, foi sintetizado na França, pela primeira vez na história, um antipsicótico eficiente, a clorpromazina, comercializado, dois anos depois, com o nome de Amplictil. Da segunda metade do século vinte em diante houve uma revolução tecnológica e científica, sem precedentes na história da humanidade, iniciando, desde então, o tratamento químico das doenças mentais. Guido Arturo Palomba, Psiquiatra e membro da Academia Paulista de História, em artigo, faz uma crítica do momento atual em que as indústrias farmacêuticas têm por objetivo vender e lucrar.
O marketing através de propagandistas, no passado, e da participação em congressos e em jornadas de professores renomados, defendendo o uso dos seus produtos, tem gerado, lucros exorbitantes. Hoje, diz ele, receitam-se antidepressivos para tudo: para parar de fumar, tensão pré- menstrual, engordar e emagrecer, motivos de tristeza decorrentes da falta de dinheiro ou por desencontros afetivos. Rivotril, como ansiolítico, vende mais que tylenol, e outras marcas de antidepressivos mais do que antibióticos.
A Classificação Internacional das Doenças (CID – 10) introduzido na década de 90 e que se tornou a “bíblia” da psiquiatria contemporânea, substituindo todos aqueles grandes tratados escritos pelos doutrinadores do século vinte, na Europa. A psiquiatria européia elaborada com esmero e vagar, foi substituída pela psiquiatria americana, rápida e mercantilista, a serviço da indústria farmacêutica. H
oje, loucura é o que se receita de remédios psiquiátricos, deixando de lado o “divã clínico investigativo” do passado pelo tratamento químico rápido dos sintomas, sem buscar com diligência a causa da doença. “A melhor cura será aquela que casar a arte com a ciência, quando corpo e espírito forem examinados juntos” isso foi escrito pelo médico cardiologista e cientista renomado, Bernard Lown, no livro A Arte Perdida de Curar.
No uso da tecnologia de ponta necessário se faz o acréscimo do benefício da relação humana plena de amor, devoção e arte. Esse humanismo se inicia com o aperto de mão e termina com a palavra cautelosamente escolhida para ajustar-se à individualidade de cada paciente. As afirmações do médico têm poder terapêutico, ou podem causar danos, iatrogenia, quando ditas sem cautela.
A arte de ouvir sem pressa busca a causa da doença evitando medicar apenas os sintomas, muitas vezes irrelevantes. Lown, para subsidiar sua tese, utiliza referências estatísticas, demonstrando que uma grande quantidade de exames seria desnecessária e que procedimentos invasivos e dispendiosos poderiam ser evitados se uma entrevista detalhada, anamnese, tivesse sido feita.



