Há uma música cantada por Agostinho dos Santos cuja letra assim inicia: “Luz dos meus olhos, desejo em flor, que mal conhece o que é o amor…” A grande dificuldade do ser humano, em julgar entre o certo e o errado, está justamente no “mal conhecer” aquilo sobre o qual se pretende polemizar. Vemos isto, num arroubo desculpável do poeta, num dos trechos lido por César Ladeira, dono de um invejável timbre de voz, com perfeita dicção, no espaço que separa os dois versos cantados, afirmar que “a eternidade não vale um só dos teus carinhos”.
Sem dúvida sabemos que a eternidade incomparavelmente vale muito mais que os muitos carinhos da mulher amada! A mídia tem despejado em nossas mentes uma pletora de informação tipo “reader’s digest” de consumo rápido, nos satisfaz mais a curiosidade do que o conhecimento. Anuncia-se que estamos vivendo a era do conhecimento, e todos tem direito a ele de uma forma global; mas tem sido ele espalhado como migalhas de pão lançadas à multidão faminta – pouco satisfaz, mas engana bem. Pouca verdade em profundidade não leva ninguém à maturidade da fé e da razão que nos faz eleger a Ética e a Moral que norteiam a nossa vida.
O homem horizontal está perdendo a sua verticalidade, que ainda lhe resta, ao tentar obter respostas às suas angústias existenciais firmado apenas nas fontes duvidosas da filosofia humana. Milhões de livros são publicados em prosa ou em verso na busca de romantizar a vida ou de enriquecer o saber. A Ciência se multiplica, o homem domina o espaço, encurta o tempo, mergulha na abissal profundidade dos mares, retira do interior da terra energia, irriga e faz o campo produzir e se arrisca em domar as violentas correntes dos rios; mas Deus no tempo da sua soberana vontade, como Senhor da História, continua abrindo aos homens, de uma maneira cautelosa, as comportas do conhecimento. Mesmo assim, com pesar, Ele tem observado que mesmo no meio de tanta riqueza falta ao ser humano maturidade de fé e de sabedoria para governar a si mesmo, e aos outros, na difícil arte de aprender e de ensinar como ser feliz na convivência entre o ser e o ter.
O primeiro assédio moral no coração do homem surge do desejo de ser servido e não de servir, para isso acontecer ele aprendeu que tem de dominar e não ser dominado, isso exige trocar o amor que serve pelo poder que corrompe. Poder sem amor é tirania. Na tirania não se questiona, se obedece. Na realidade, nunca nas tribunas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, em Brasília, se fez tanto da mentira verdade e da verdade mentira como hoje se faz.
Correta “filosofia”, para um bom julgamento, tinha o velho Homero, pai do meu cunhado, que afirmava: “Todo mundo é bom, mas ninguém presta”. Michel de Montaigne, filósofo francês, em seus “Ensaios” assim se expressa por meio de um dos seus personagens: “Ninguém acha que delinqüiu mais que o permitido”; os “pequenos” delitos não devem ser levados em conta? Racionalizando sobre as nossas transgressões, causadas pelo assédio imoral, podemos afirmar que muitos têm caído porque estão convencidos que o Mal não é tão mau, e o Bem não é assim tão bom. Sem Deus o julgamento que o homem faz do erro se torna permissivo no tribunal da sua consciência. Protágoras, filósofo pré-socrático e fundador do Humanismo Antigo, considerava o homem como a medida de todas as coisas usando a expressão “Homo Mensura”; este pensamento fez surgir a Teologia Natural, sem Deus.
Quando a quantidade ou a qualidade do escândalo já não escandaliza é porque a sabedoria em discernir moral de imoral e bem de mal perdeu-se ao romper com o Absoluto e deixar-se abraçar pelo Relativismo. Se a Moral está à venda, qual é o preço a ser pago pelo assédio? Se há corrupção nos três poderes, em Brasília, seja porque alguém se corrompe é porque, antes de chegar lá, essa pessoa já era corrompida. Não é a ocasião que faz o ladrão, mas por ela ele é revelado. De onde veio o material usado para fazer a sua armadura moral? Do Hedonismo secular que torna você vulnerável às flechas malignas do “tudo pode” que mata e escraviza? Porém, se for da Verdade eterna de Deus você se torna invulnerável à espada do Mal e vitorioso como cavaleiro do Bem.