quinta-feira, 5 dezembro, 2024
Brasil, um grande cassino online

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mais de 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes no primeiro semestre de 2024 por causa das apostas em cassinos online. A entidade afirma que os apostadores têm usado, sem controle, cartão de crédito nessas plataformas de jogos, o que contribui para um aumento das contas em atraso.
No Brasil, pelos apostadores foram gastos em jogos, entre junho de 2023 e junho de 2024, 68 bilhões de reais, o equivalente a 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apontou a CNC. O montante revela que 22% da renda disponível das famílias são usadas para apostas nesse período, agravando os problemas econômicos e sociais. O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, declarou em nota oficial: “O público jovem e de baixa renda é o mais afetado. Segundo ele, isso tem potencial de agravar ainda mais o ciclo de pobreza e desigualdade por utilizar dos recursos essenciais no vício do jogo. Sem dúvida, isso diminui o consumo no comércio varejista, resultando na queda de faturamento do setor em 17 bilhões de reais por ano”.
A situação tem se tornado tão grave que um grupo de advogados de São Paulo vai criar a Associação de Proteção às Vítimas de Jogos Eletrônicos para dar assistência jurídica e psicológica aos jogadores compulsivos e na negociação de dívidas. O comentarista de economia Celso Ming, em seu artigo “Bets e Lavagem de Dinheiro”, diz que o presidente Lula deve ter levado um susto quando soube que R$ 3 bilhões (21%) dos R$ 14 bilhões repassados para famílias da Bolsa Família foram utilizados nas plataformas de aposta online, apenas com pagamentos via Pix. Cerca de 5 milhões de pessoas das 20 milhões de famílias apostaram com o dinheiro do programa. Essas casas de apostas faturaram em 2023 R$ 100 bilhões, dinheirama que foi desviada do consumo e dos investimentos. Celebridades são contratadas por milhões de reais para fazer publicidade camuflada por apelos “a apostas com responsabilidade”.
O psiquiatra Hermano Tavares, referência em transtorno mental do jogo, afirma: ”O único jogo responsável é não apostar”. Celso Ming recomenda insistir na reivindicação de que se reveja a atual regulamentação tão perniciosa, incluindo lavagem de dinheiro. Organizações criminosas, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital, vêm usando as bets para lavar dinheiro do tráfico e financiar suas atividades: espalhar o tráfico de drogas, aliciamento de políticos, “convencer” juízes a aprovar leis dos seus interesses, como a dos transportes coletivos na cidade de São Paulo.
As casas de apostas online foram legalizadas em 2018, no governo Temer, mas a regulamentação só foi sancionada no início de 2024 – mais para saciar a fome de arrecadação do governo Lula do que para organizar o segmento. Palavras de um viciado em jogo em tratamento há seis meses: ”Para apostar em cavalo, você precisa ir ao jóquei. Para ganhar na roleta, precisa encontrar um cassino. Mas, para jogar na bet, não precisa ir ao estádio. Joga em casa mesmo. É como ter um cassino na palma da mão”. O jogo online tem sido estrategicamente comercializado junto com o esporte, mais com o futebol, o mais popular, o que o normalizou como atividade divertida, inofensiva e sociável.
A publicidade intensiva incita até as crianças a jogarem e terem comportamentos de risco. O documento, intitulado “Você Ganha um Pouco, Você Perde Muito”, recomenda 31 medidas ao governo australiano para conter esse avanço das bets, epidemia de jogatina sem precedentes nas gerações que nos antecederam.
Em 710 a. C. o profeta Oséias advertiu a nação, dizendo: “Quem semeia vento, colhe tempestade” (Os. 8: 7). Devido à sua falência espiritual, o juízo de Deus viria sobre ela. Aconteceu em 732 a. C. quando foi levada para o cativeiro na Assíria. Os nossos legisladores, também, estão permitindo que entidades não-governamentais semeiem no vento da corrupção as sementes das bets, para serem levadas e plantadas em todo território nacional, produzindo a tempestade do mal nos viciados acorrentados ao vicio.

Dr. Mauro Jordão é médico ginecologista.

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