É interessante. Há poucas semanas assisti, no cinema, o filme “Conclave”. Um filme baseado em dados reais do que acontece no Vaticano na época da eleição de um novo papa. O lançamento do filme quase aconteceu simultaneamente com o calendário da Santa Sé que convocou o início de mais um conclave, entre tantos outros que houveram no passado, e que se deu em 7 de maio de 2025, onde 133 cardeais que decidiram, pela eleição de Robert Prevost, o Papa Leão XIV como substituto do Papa Francisco, após os cerimoniais do funeral e sepultamento do mesmo, falecido em 21 de abril de 2025. O cortejo fúnebre foi majestoso com a presença de 400 mil pessoas, entre peregrinos e poderosos, que vieram se despedir de Francisco que quis ser em vida “simplesmente um cristão”. O bom seria que os seus fiéis seguidores o seguissem mais de perto a fim de por em prática as suas virtudes pelos caminhos diários da vida no mundo tóxico e trágico em que vivemos, sem Deus.
Um fariseu, intérprete da lei, perguntou a Jesus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei?” Respondeu-lhe Jesus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Mateus 22: 35-39. Aí estão os dois fundamentos nos quais se firma a fé cristã.
Deus dotou a mente do homem da razão para que tivesse a visão horizontal das coisas e das pessoas que o rodeiam, pondo em prática o segundo mandamento, mas também colocou em seu coração a fé para que tivesse a visão vertical Dele como Criador, Senhor e Salvador, pondo em prática o primeiro mandamento, no entanto, o que temos visto é o esquecimento e o desprezo da maioria das pessoas em olhar para cima, na vertical, para agradecê-Lo pelas bênçãos diárias e adorá-Lo em espírito e em verdade.
O livro que deu origem ao filme Conclave tem como autor Robert Harris, romancista inglês e membro da Royal Society of Literature. Como definiu o jornal francês Libération, Conclave, filme, é uma espécie de “thriller clerical”. Num ambiente de máxima religiosidade, expõe a forma laica de todas as artimanhas políticas empregadas na conquista do poder. Há regras escritas, mas há também um ambiente de estratagemas, alguns deles muito pouco ortodoxos. Nos dias de votação desligam-se do mundo e se internam na Capela Sistina, mas trazem em suas mentes o mundo e seus problemas para dentro desse ambiente reservado. Levam suas contradições mundanas para o interior dos santos muros pintados por Michelangelo.
Entre o grupo de cardeais que se formam e se opõem, discutem-se os rumos que a Igreja Católica poderá tomar após a eleição do novo papa. Francisco mostrou-nos que ser Papa é ser servo, não soberano. Ele carregou um fardo pesado de lutas gigantescas com a indiferença dos seus opositores, algumas internas e silenciosas. Foi um incansável defensor dos pobres, caminhou com os marginalizados e estendeu a mão aos esquecidos. Tentou aproximar aqueles distantes do altar da igreja. Condenou a idolatria do dinheiro, pediu uma igreja menos palaciana e mais próxima dos necessitados.
Muitos embates aconteceram com setores conservadores da própria cúria romana. Francisco ousou relembrar o verdadeiro Evangelho pregado por Jesus. Papas são homens, no entanto, Jesus Cristo encarnado é o Filho de Deus; se cremos que sua morte na cruz, em sacrifício vivo, nos purifica de todos os nossos pecados temos a salvação para vivermos com Ele no céu, livrando-nos da perdição eterna. Seu sacrifício na cruz lembrado de forma simbólica na liturgia não tem causado nos fiéis a mesma comoção como da morte de um pontífice.
Francisco, seguidor praticante do Evangelho de Jesus, deveria inspirar nos líderes políticos e religiosos o desejo de erguer pontes, e não muros, num mundo cada vez mais dividido e isolado em que seus moradores estão tendo o amor cada vez mais ausente ao próximo, e pela fé cambaleante que possuem viram as costas ao Cristo em sacrifício vicário na cruz por cada um de nós.