Vivemos um tempo curioso. Nunca se falou tanto em emoções, saúde mental, escuta ativa, empatia. Nunca se publicou tanto conteúdo sobre sentimentos, autoconhecimento e “se colocar no lugar do outro”. Ainda assim, nunca tivemos uma geração tão frágil, desmotivada, ansiosa e, ao mesmo tempo, tão intolerante ao desconforto. Nas escolas, os reflexos já são visíveis. Crianças que não toleram um “não”. Jovens que desistem ao primeiro obstáculo. Famílias que confundem acolhimento com permissividade. E educadores tentando equilibrar o cuidado com o medo de serem mal interpretados.
No mundo adulto, os fenômenos se multiplicam. Termos como “quiet quitting”, “soft life movement”, “great resignation” e “bare minimum Mondays” refletem um cenário de pessoas que se sentem exaustas antes mesmo de começar. Profissionais que abrem mão de protagonismo em nome de “preservação”, mas que, muitas vezes, escondem por trás disso uma dificuldade de lidar com frustrações, hierarquias e cobranças naturais da vida real. E é aqui que a educação entra em cena.
A promessa de uma educação revolucionária, afetiva e respeitosa, quando mal interpretada, tem produzido efeitos colaterais graves. Não, não se trata de voltarmos aos gritos, castigos ou punições. Mas sim de reconhecermos que há uma diferença imensa entre respeitar a infância e terceirizar a autoridade. Crianças precisam ser educadas. E as famílias, desorientadas, não podem ser reféns do medo do trauma.
É preciso dizer: não é opressor um adulto conduzir uma situação com firmeza. Não é autoritário exigir respeito. E não é traumatizante mostrar que, em uma família, existem sim relações hierárquicas. Pai e mãe não são “iguais” ao filho. Professores não são “colegas”. E há ambientes – como uma sala de aula, um consultório, um restaurante – em que certos comportamentos são esperados.
Nem tudo será negociado numa conversa em que o adulto se abaixa, olha nos olhos da criança e diz calmamente: “como você se sente sobre guardar seus brinquedos agora?”. Educação exige afeto, mas também exige limite. Diálogo, sim – mas com direção. Estamos criando crianças que aprendem sobre os sentimentos, mas não sobre o que fazer com eles. Que sabem nomear raiva, tristeza, frustração, medo… mas que não sabem atravessar essas emoções sem se perder nelas.
E aqui, destaco pontos cruciais:
– Está tudo bem sentir raiva – mas isso não justifica gritar com os outros.
– Está tudo bem sentir ansiedade – mas isso não dá o direito de atropelar processos nem silenciar falas.
– Está tudo bem sentir tristeza – mas a vida exige resiliência para encontrar outras saídas.
– Está tudo bem sentir felicidade – mas ela não é permanente, nem precisa ser.
– Está tudo bem sentir “nojinho” – mas isso não autoriza julgamentos ou práticas preconceituosas.
– E está tudo bem sentir medo — mas ele não pode ser desculpa para inércia ou desmotivação.
Educar para o século XXI é também devolver profundidade aos vínculos, solidez às relações, e clareza sobre o papel do adulto na formação de um sujeito forte, empático e comprometido. Precisamos de uma geração mais forte, mais sólida e mais preparada para transformar o mundo que nós mesmos estamos destruindo. Isso não se constrói com concessões infinitas nem com a infantilização eterna. Constrói-se com presença, com escuta, com afeto — e com coragem de educar de verdade.



