Todos os anos, março nos brinda com um verdadeiro festival de datas “conscientes”. Dia Mundial do Consumidor (15/03), Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas (16/03), Dia Internacional do Zero Lixo (30/03) e, claro, o Dia Mundial da Água (22/03). Um pacote completo para nos lembrar do quanto estamos preocupados com o planeta. O curioso é que, enquanto essas datas se acumulam no calendário, os oceanos seguem sendo depósitos de plástico, as cidades derretem sob ondas de calor recorde, o consumo desenfreado continua sendo a engrenagem da economia e os recursos naturais se esgotam na velocidade de um clique no e-commerce. Mas que bom que temos datas comemorativas para aliviar a consciência!
E o que fazemos com esse conhecimento? Postamos sobre ele. Um story sobre mudanças climáticas, um post patrocinado da marca sustentável (que, ironicamente, lança 15 coleções novas por ano), um “beba mais água!” no X – e pronto, missão cumprida. Seguimos com nossos carrinhos cheios de produtos que vêm embalados três vezes, adoramos um fast fashion que custa menos do que um café e continuamos a acreditar que reciclar aquela garrafinha plástica vai salvar o mundo. Somos o Homo sapiens sustentável de Instagram. Mas ei, pelo menos sabemos a data de cada uma dessas causas, não é mesmo?
Talvez seja por isso que os filmes sobre o fim do mundo estejam sempre em alta nos streamings. “Não Olhe Para Cima” fez questão de esfregar na nossa cara que a humanidade é incapaz de levar a sério um desastre iminente. “O Preço do Amanhã” já avisou que o futuro pode ter um sistema onde tempo é dinheiro e só sobrevive quem paga. “Onde Está Segunda?” nos levou para um mundo em que o controle de natalidade se tornou a única solução para o colapso ambiental. E o melhor: assistimos a esses filmes no conforto do sofá, enquanto encomendamos mais um gadget que será obsoleto em seis meses. O apocalipse é um grande entretenimento. Só não queremos que atrapalhe nossas compras online.
A verdade inconveniente é que não há um Plano B. Ainda não descobrimos outro planeta para estragar. Marte é inóspito, Vênus é um inferno e Netuno… bem, melhor nem mencionar. Nosso presente parece um ensaio para aquele futuro distópico que tanto gostamos de assistir, mas ainda acreditamos na ilusão de que algo mágico nos salvará. Talvez uma tecnologia revolucionária, um bilionário visionário ou quem sabe um novo aplicativo que resolva tudo com um toque na tela. Só não nos peçam para mudar hábitos. Isso é pedir demais.
O problema é que o fim do mundo não virá como uma grande explosão cinematográfica. Ele já está acontecendo. Está nos rios contaminados, nas geleiras que desaparecem, no ar poluído que respiramos. Está no calor que aperta, nos alimentos que encarecem, na água que falta. Mas não se preocupem, pois março está cheio de datas importantes. No próximo ano, podemos fazer mais um post de conscientização e continuar fingindo que está tudo sob controle. Afinal, enquanto o planeta afunda, o importante é que o Wi-Fi segue funcionando.