Bons amigos

Bartolomeu Augusto era nosso cão gigante de guarda, e Napoleão Augusto, o cãozinho de estimação. O primeiro, um pastor alemão de grande porte, capa preta de pelo longo, daqueles que impressionam a qualquer um, e que causam temor pelo seu tamanho e postura. Mas, cá entre nós, um doce, sereno, obediente e carinhoso. Um lindo e ótimo cachorro de segurança que cumpriu, cabalmente, sua missão em nossa casa: jamais sofremos furto ou roubo por todos os seus sete anos de vida, e muito, devido a ele. Faleceu de câncer, recentemente, para a tristeza da família, mesmo considerando nosso grande esforço para o manter vivo.

Napoleão não era, exatamente, o bulldog francês que o vendedor prometeu: na verdade, um mestiço, porém, lindo, independentemente do pedigree, e um presente dado à nossa filha, que o recebeu assim que voltou de viagem, entre lágrimas, sorrisos e abraços, advindos do impacto de o conhecer. Malhadinho de preto e branco, ou branco e preto, ninguém sabe, logo se tornou uma grande alegria para todos os que com ele conviveram.
Foram anos de felicidade e algumas preocupações, pois Napoleão, depois de um bom tempo de vida, adoeceu e começou a dar bastante trabalho, especialmente, para minha dedicada esposa, que dele cuidava com toda atenção e carinho.
A doença se agravou e se tornou terminal, e no começo do mês, depois de tentarmos todos os tratamentos possíveis, decidimos pela eutanásia, para o poupar de sofrimento maior. Em poucos meses, perdemos dois amigos preciosos. A dor é inevitável, mas, também, a gratidão. Os cães, de fato, são mais que animais de estimação: são companheiros leais, que nos ensinam sobre fidelidade, alegria e amor incondicional.

É claro que os vínculos humanos ocupam lugar, incomparavelmente, superior, mas seria injusto não reconhecer o quanto aprendemos com esses fiéis amigos. Eles nos lembram, com simplicidade, que a vida se fortalece na presença do outro, mesmo que esse outro caminhe sobre quatro patas.
Depois de homenagear tantas pessoas que marcaram minha vida, sinto que também devo registrar aqui meu tributo a Bartolomeu e Napoleão: dois cães que, sem discursos ou teorias, ensinaram mais sobre amizade e entrega do que muitos livros.
Que cada um de nós, ao olhar para seu animal de estimação, perceba o quanto é possível aprender com a lealdade silenciosa e a alegria genuína desses companheiros. Afinal, talvez esteja aí uma das maiores reflexões da vida: o amor verdadeiro não precisa de palavras, apenas de presença e ação.

Edição 244

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