sábado, 27 abril, 2024
A disformidade da arte

Minha mulher, algumas vezes, cha mou-me à realidade, dizendo: “Não sei por que você perde tempo em ouvir estas músicas ruins e sem graça, se até o fim da nossa vida não vai dar tempo de ouvir o melhor de todas as músicas de qualidade que você colecionou em 50 anos”. É verdade, há uma quantidade razoável de discos de vinil, fitas gravadas e CDs que ocupam boa parte das prateleiras da sala de som.
Alegro-me em ver, na igreja, jovens cantando cânticos de louvor com palmas e expressão corporal ao som das guitarras, porém, entristeço-me vê-los calados, indiferentes à letra e à melodia dos hinos inspirados cantados pelos pais, e no passado pelos avós. A música quando toca o coração nunca envelhece. Grande parte da música contemporânea, gospel ou secular, mais fabricada do que inspirada, pobre de letra e ruím de melodia pode despertar o instinto sensual agressivo, mas não o agradável sentimento de amar. Ray Conniff em entrevista: “Alguém disse que minhas músicas servem apenas como som ambiente de elevador. Uma moça, disse que ao ouvir comovida uma das minhas músicas desistiu do suicídio”.
A Renascença foi o período de transição da passagem da Idade Média para a Idade Moderna (séc. XIV à XVI), quando, ainda, na arte produzida pela mente dos grandes artistas e pensadores havia beleza e harmonia de proporção que se igualavam a perfeição da Criação de Deus. À medida que o homem se distanciou do Autor da arte, Deus, ele buscou pelo racionalismo separar a razão da fé. A arte tem refletido sua angústia e ansiedade na forma deformada das obras do início do séc.XX, movimento artístico e cultural denominado Expressionismo.
Francis Schaeffer, Diretor da Comunidad L’Abri na Suíça, no seu livro “A Morte da Razão” mostra bem o tipo da arte deturpada na literatura, na arte plástica, na música, no teatro, na televisão e na cultura popular pelo homem da razão sem Deus, sem significado, sem a Graça, que busca em desespero deformar, pela mente e pelas mãos, o belo no fantasma da imperfeição. Tudo que é criado tem começo, meio e fim. No começo da Criação o homem na realização da arte tinha como modelo de inspiração a beleza e a perfeição das obras que saíram das mãos de Deus. Ele procurava extasiado reproduzir o que via e o que sentia na busca de se igualar na arte com o Criador. O absoluto de Deus enchia de fé todos os poros dos artistas.
A busca da arte ligada ao Criador ainda permeou por todo período da Cultura Medieval (séc. IV ao XV). A invenção da imprensa, em 1440 por Johannes Gutenberg, foi o acontecimento crucial para que o conhecimento escrito se espalhasse rapidamente entre o povo sedento do saber. A Igreja Católica que mantinha a palavra revelada, a Bíblia, aprisionada nos mosteiros viu, preocupada, a “Bíblia de Gutenberg” manuseada nas mãos dos fieis, juntamente com os escritos dos filósofos do Renascimento (Séc. XIV-XVI). Da Razão Humanista surgiu o relativismo que procurava tirar do coração do homem as verdades bíblicas absolutas advindas da fé.
A arte nesse meio de transição para a modernidade (Séc. XV-XVIII), além dos temas sagrados, passou a expor, também, os profanos, porém, havia ainda um comprometimento com a harmonia do belo de fácil compreensão e admiração. A arte é uma forma do ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia e equilíbrio em sete formas de arte: pintura, escultura, música, dança, teatro, literatura e cinema (sétima arte). Podemos acrescentar: fotografia, história em quadrinhos, video games e arte digital.
A arte sem Deus, em vez da beleza, reproduz a feiura daquilo que se acha no interior do homem decaído. Theodor W. Adorno, filósofo alemão, disse: “A tarefa atual da arte é introduzir o caos na ordem”. No começo da arte havia ordem, no meio caminhou para a desordem e no fim, numa bienal, veremos apenas a moldura do nada. Na tela da arte pós-moderna se pode ver a expressão da decadência moral e espiritual do homem que se afastou de Deus.

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Dr. Mauro Jordão é médico ginecologista.

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