sábado, 27 abril, 2024
Jerusalém

Nem a torradeira do hotel funcionava naquela manhã fria de sábado em Jerusalém; o café da manhã reduzido a um pão com manteiga – era o sábado de repouso do judeu, do sol poente de sexta ao final do entardecer de sábado. Quem chegou ontem da agitada Tel Aviv estranha a ausência quase total dos taxis e dos ônibus nas ruas da cidade. Nesse dia, quase vazia, Jerusalém se mostra obediente à ordenança dos Dez Mandamentos: “Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas no sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho…”
Toda a viagem a Israel é inesquecível: ver o Mar da Galiléia, a região das cidades do norte onde se deu o ministério de Jesus, e imaginar no Vale de Elá a luta de Davi contra o gigante Golias. Não há lugar igual a Jerusalém onde judeus ortodoxos se misturam nas ruas com os muçulmanos árabes num tráfego apressado durante a semana. As muralhas altas da velha cidade escondem o comércio intenso dos palestinos sustentado pelos turistas e religiosos vindos de toda parte da terra.
Com emoção a gente deixa nos pequenos espaços entre as pedras do Muro das Lamentações, o que sobrou do Grande Templo de Jerusalém, um bilhete a Deus pedindo por nós ou pela paz e pelo amor entre os homens. No alto do monte vemos brilhar a cúpula dourada da Mesquita de Omar. Fora das muralhas temos a cidade nova, moderna e diversificada em sua atividade comercial tendo no centro um mercado rico de produtos hortifrutigranjeiros. Em Belém, dentro do Templo da Natividade, podemos ver o local onde Jesus nasceu na humilde estrebaria.
O profeta Ezequiel em seu livro 5:5: “Assim diz o Senhor Deus: esta é Jerusalém; pu-la no meio das nações e terras que estão ao redor dela”. Num mapa mundial você pode constatar que o ponto onde se localiza se acha no centro geográfico da terra. Vários mapas do mundo da Jerusalém antiguidade mostram essa verdade, tendo a Europa, a Ásia e a África como três pétalas de uma flor, cujo estame central é Jerusalém.
Esta Cidade Santa é mencionada 600 vezes no Antigo Testamento e 160 vezes no Novo Testamento por ser o centro espiritual do mundo. Invadida nove vezes pelas Cruzadas na luta contra os muçulmanos, resistiu. Há quarenta e cinco anos quando visitei Israel, lembro estar numa praça, dentro da parte antiga amuralhada da cidade de Jerusalém, e tive uma conversa com um judeu que me disse ter vindo da Espanha; aí eu perguntei: “Por que você decidiu deixar aquele país para vir para cá?” Ele respondeu convicto: “Porque aqui é minha casa”.
A dispersão dos judeus, no decorrer dos séculos, por todo mundo, fez nascer em cada um deles o desejo de ter um lar definitivo. A Diáspora aconteceu devido à perseguição do povo judeu pelo preconceito político, religioso e étnico de outras nações. No coração de um judeu, em qualquer país onde esteja, existe um brado de esperança: “Ano que vem em Jerusalém”. Jerusalém, além da sua centralidade geográfica, é considerada, também, o centro espiritual do mundo. No livro de Isaías no capítulo 60 lemos a profecia que anuncia navios que vêm de longe; os maiores vêm na frente, trazendo o povo de Deus, os judeus, de volta para a sua terra. Jerusalém é o Monte das Oliveiras, o Jardim Getsêmani, a entrada triunfal de Jesus no Domingo de Ramos, a Via-Sacra, a morte na cruz, o sepulcro vazio após a ressurreição e a ascensão de Jesus aos céus.
Em 1967, na sala de reunião dos médicos no Hospital Ipiranga, São Paulo, assistíamos, pela televisão, o conflito armado da Guerra dos Seis Dias que opôs Israel a uma frente de países árabes: Egito, Jordânia e Síria, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, quando alguém falou: “Israel irá desaparecer como nação”; eu retruquei: “Não irá não! Ele vai vencer!” Uma semana depois, voltando ao plantão, o mesmo colega que vaticinou a derrota de Israel me perguntou: “Como você sabia que os judeus iriam vencer aquela força de guerra inimiga?” Respondi: “Pela Bíblia.” Após esse conflito armado Jerusalém foi unificada, dando acesso livre aos lugares sagrados tanto a judeus como cristãos. Jerusalém é eterna.

Dr. Mauro Jordão é médico ginecologista.

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