sexta-feira, 26 abril, 2024
O legado de Lutero

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero fixou na porta da capela do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, o documento das 95 teses. No texto, ele expos suas reflexões sobre as práticas do cristianismo, enfrentou o papado e questionou as relações vigentes entre os dois grandes poderes da época: o Estado e a Igreja Católica.
O teólogo, principal nome da Reforma Protestante, criticava sobretudo a compra de indulgências, ou seja, o pagamento pelo perdão de pecados, como caminho para a salvação. Na religião o estudo da Bíblia foi aprofundado. Na época, o Renascimento ajudou a desencadear a reforma, o mundo passava por uma grande transformação. A ascensão da burguesia punha em crise a organização feudal. A nobreza e o clero disputavam o poder junto aos monarcas. Em 1521, Lutero foi excomungado por suas teses, e devido perseguição religiosa esteve em retiro forçado onde dedicou-se à sua principal obra: a tradução da Bíblia do latim para o alemão.
O começo da separação do Estado da Igreja deu confortável liberdade ao povo para discernir entre o ter e o ser na essência da fé: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” – Romanos 5: 1. Lutero ao ler Romanos 1: 17, no final do versículo onde diz que “o justo viverá por fé” foi revelado em sua mente que a justificação e a salvação do pecador vêm exclusivamente pela fé no sangue remidor de Jesus, abolindo, assim, as penitências, o purgatório, a intermediação do papa, a missa pela alma dos mortos.
Quando estive na cidade de Granada, a guia, além de outros pontos turísticos, nos levou para conhecer a Catedral Metropolitana, quando adentramos o templo ela nos disse: “Neste momento estão rezando uma missa em intenção da alma de Isabel e de Fernando, chamados Reis Católicos, realizada todos os dias por ordem dos mesmos quando ainda em vida”. Considerei: “Esses reis católicos deviam ser muito pecadores para que exigissem uma missa diária por mais de quatrocentos anos”.
Reformar é colocar o pensamento do homem na medida da vontade de Deus. Lideres cristãos se destacaram na Idade Média, eles tinham a tesoura da censura divina e conseguiram eliminar os excessos humanistas da Igreja. Ela escravizava o povo pelo poder tirano do clero que usava estranhos ritos e dogmas à revelia da doutrina revelada. O cristianismo da Idade Média contaminado por erros, abusos e desmandos herdados da Idade Medieval estava tão desmoralizado que Deus resolveu romper os grilhões que aprisionavam a Sua Palavra nos mosteiros. A prensa de Gutenberg (1398 – 1468) foi o meio providencial de panfletar a Verdade, distribuída a mãos cheias para saciar o povo faminto da Palavra de Deus.
O Senhor dos Exércitos disse a Zacarias: “Não pela espada nem pelo poder, mas pelo meu Espírito”. Roma usou a espada para destruir os cristãos; os profetas usaram a caneta para espalhar a Palavra de Deus, que é a espada do Espírito, que transforma o homem velho em nova criatura. John Knox (1514-1572), O Reformador da Escócia, padre desde 1536 lutou pela reforma da igreja, foi preso pelo exercito francês, que invadiu o seu país, e foi com crueldade condenado às galés como remador por 19 meses. Alcançou a liberdade na troca política de prisioneiros. Teve que fugir para Genebra, na Suíça, quando da ascensão de Maria Tudor ao trono da Inglaterra (1547-1558), filha de Catarina de Aragão que foi casada com Henrique VIII, fundador da Igreja Anglicana como revanche ao papa que não aceitou o seu pedido de divórcio, sendo excomungado. Em Genebra tornou-se aluno de Calvino. Em Dezembro de 1557, os nobres escoceses fizeram um pacto de usar suas vidas e bens para estabelecer a Palavra de Deus na Escócia. Nessa conjuntura, já separado da Igreja Católica, John Knox volta à Escócia para implantar o calvinismo e fundar a igreja presbiteriana escocesa. Sua histórica e perseverante oração foi atendida: “Senhor, dê-me a Escócia senão eu morro”. Esse ano, em 31 de outubro, comemora-se os 504 anos da Fé Reformada.

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Dr. Mauro Jordão é médico ginecologista.

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