quinta-feira, 5 dezembro, 2024
Pós-verdade

A intensificação do emprego desse neologismo se dá, notoriamente, nas comunicações digitais, através das mídias sociais e outros, sendo que o problema, a meu ver, é o que está nesse conceito. O significado do termo é, em resumo, a percepção, com base em emoções e valores próprios dos indivíduos, sobre determinada coisa, sem ser considerada a realidade absoluta do fato.
É claro que o ser humano se depara com inúmeras mensagens em que precisa lançar mão das melhores exegese e hermenêutica para interpretar corretamente as tais, mas é impressionante sua criatividade e capacidade de dissimular, camuflar e de aplicar eufemismos para manter o status quo, atingir objetivos ou levar alguma vantagem, mesmo a partir dos mínimos atos.
Quando lemos “O Príncipe” de Maquiavel ou, mais recentemente, “As 48 leis do poder” vemos um pouco do que o homem é capaz nesse sentido, de maneira que esperar dignidade e honra temperadas com honestidade, lealdade e compromisso com a verdade é mera infantilidade.
Nessa esteira, a forma de construir a mensagem e seu conteúdo tem-se sobreposto àquilo que nos parecia básico e inequívoco, que é o fato, a simples verdade. Isto se alastra para os diálogos em família, entre amigos, na escola, igreja, política, mídia, nos negócios, enfim, estamos contaminados sem que a maioria se tenha apercebido disto.
Mais do que nunca urge ser atento à assertiva, venha de quem vier, e para a interpretar da melhor forma, observar os detalhes de sua formação e origem. Mas viva quem sabe lidar bem com a pós-verdade: bendito seja, é o que clamam muitos!
Lembro-me de ter repetido a meu filho: “uma das principais e boas características que você deve nutrir na vida é o compromisso com a verdade e o consequente afastamento da mentira; pense na convivência com o mentiroso: mente aqui e acolá e por vezes fala a verdade – como distinguir uma coisa de outra?”. Enfim, para mim, pós-verdade não é nova roupagem, mas, simplesmente, mentira!

Leonel Zeferino é empresário.

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